ZÉ DO PAPO-O ERRADIO MAL CHEIROSO NUM DIA DE SORTE
Zé do papo, o vagabundo glorioso que varria, quer dizer, andava por, toda a cidade, mais propriamente as partes mais nobres, da cidade, soletrando palavras obscenas e outras não tanto, em sussurros arfantes pelo cansaço de andarilho, catando aqui ou ali, alimento, objectos que lhe fossem úteis, favores subtis, encapotados de altiva sobriedade.
O que lhe dava mais gozo não era uma foda em qualquer gaja bem parecida que se enamorasse, enjeitada, das sua parcas qualidades atractivas, como ouvia a alguns basófias , nas noites sem chuva. O que lhe dava verdadeiramente um gozo de morrer a rir, de se peidar em jeito de fogo de artificio, era a imagem aflita dum ricaço, em carro de alto gabarito, entreabrindo a janela, um fio de espaço para deixar passar a voz melosa, a pedir-lhe, a ele Zé do papo, que arrastasse aquele caixote do lixo à entrada da garagem, para que a bomba de carro não saísse beliscado, e a corromper a liberdade da sua decisão com uma moeda reluzente, ouro e prata fingidos, por entre os dedos banhosos , da mão direita, sem anéis , no pequeno espaço aberto na medida certa para que os dedos dele não tocassem os do Zé, erradio e do papo. E o aroma dos seu pés não maculassem as ideias que acumulara.
-Zé, chega-me aquele caixote para lá. Tens aqui uma moeda. Olha que são dois euros.
Cabriolou numa reviravolta, sacou a moeda e dum salto lesto de genuína infantilidade, deu um piparote no dito, que se tombou.
E sem mais ligar ao banhoso , Zé do papo, olhos sagazes na procura, uma sandes inacabada e mista, olaré. Catou, catou e não achou mais nada com interesse. Juntou o derrame que meteu no caixote e seguiu adiante, comendo e cantarolando.
Havia uma espécie de tasca, um café avacalhado, como diziam. E foi para lá que foi regar com vinho, do tinto, aquela meia sandes e um coto de banana, ainda com casca que por último quase se perdia.
Zé do papo tinha um aspecto asqueroso à vista e fedia uma mistura de cheiros e aromas de frutas e odores do corpo macerado pelo pó e falta de água potável e sabão.
Tomava um banho de quinze em quinze dias, no abrigo e, quando havia, mudava alguma roupa. A merda no corpo dava-lhe saúde. Dizia por entre os dentes podres, os lábios gretados, grossos.
Saíu da tasca, cambaleando. Apanhou do chão o resto de meio cigarro e dirigiu-se a uma mulher,à porta da loja, a fumar, pedindo lume.
Zé do papo mirou-a bem. Era bonita. Jovem. E tinha um corpo escultural. Uma calça justa ao corpo. A meio, o rego da cona em evidência, entre os lábios fartos, Um papo de cona descomunal. Fazia-lhe o minete , o lambete , o que ela quisesse . Os olhos raiados de luxúria e fixos na imagem que o caracterizava. Zé do papo. Pedindo-lhe lume, se fazia favor e ela, de pronto, oferecendo-lhe o isqueiro, que ficasse com ele. E a meter-se na loja, a fugir-lhe. Os dentes podres. O sorriso rebarbativo.
Seguiu um cu bamboleante que passava, a cueca entalada no rego entre nádegas rijas, ou bem compartimentadas, a sobressair das calças brancas de tecido fino.
Era outra das suas paixões: os papos de cona e as cuecas à transparência de calças ou vestidos. Havia algumas sem cuecas e era a pintelheira farta o que Zé do papo sorvia nos olhos turvos e atormentava a mente com motivos escabrosos de fodas em turbilhão num qualquer vão de escada.
Caía a noite. Crescia a noite. Mais um copo e outro e outro. Hoje tivera muitas emoções e foi-se deitar, num recanto de prédio, onde guardava os preparos e uma cadela vadia lhe fazia companhia.
Deitou-se. Acendeu um coto de cigarro. A cadela chegou-se a ele, meiga, os olhos doces e tristes. Zé do papo esperava companhia. A Zarolha.
E veio, trôpega, chiando ais. Sentou-se no colchão junto dele, sem se aperceber do vulto que já lá estava, adormecido. Zé do papo apalpou-a no escuro.
-És tu? Zarolha do caralho ?
-Sou, sou, meu cabrão.
Zé do papo achegou-se a ela, levantou-lhe a farripa de saia, aspirou o ar com sofreguidão, a mistura de cheiros, mijo, espermas ressequidos, sarro e enfiou-lhe o caralho há muito faminto das sórdidas investidas que aplacassem a loucura das visões diurnas.
Ela, a Zarolha, não deu por nada. A cona chocalhando de espermas antigos e recentes. E ele, arfando e peidando-se , adensando o ar de novos perfumes e vapores.
A cadela dormindo.