PESCADOR
josé raimundo
uma bitola de lei para a malha
camisa branca riscada
homem arte bastante que o valha
barrete e cinta borlada
**
os olhos azuis límpidos marinhos
o colete de cinza finório
as mãos ágeis os lábios mansinhos
o bigode farto notório
**
a pele morena tão de sol curtida
de rugas fundas sulcada
cruza pontos na memória contida
cresce o pano de rede cruzada
**
cisma sem cansar de tal sabedoria
mestre em artes de pesca
usa a arte milenar numa alegoria
de humano que o mar atesta
**
eis o homem anónimo um pescador
nasceu maré tempestuosa
afrontou o mar revolto foi remador
na noite do medo revoltosa
**
barco a baixo barco a cima possante
larga a rede e colhe o peixe
tudo a braços e pernas força andante
dele não haja quem se queixe
**
fez amor na praia entre dunas gigantes
marialva no intervalo da faina
ondas e mulheres foram suas amantes
que a força da natureza amaina
**
tanta gente comeu do que ele pescou
no limite do tempo da discórdia
ainda foi pedinte porque então cegou
morreu só e de misericórdia
**
tomara eu ter sido como ele
um vagabundo do mar com eira e beira
senhor do vento que varre a pele
e não este arrastar estulta pasmaceira
**
autor: jrg