06
Nov10
ÀS VEZES REGURGITO DA MEMÓRIA...
NEOABJECCIONISMO
olho de novo o espelho da memória
a ver-me rapazinho magrizela
no tempo que o medo fazia história
e meninas vestiam de Cinderela
lembro sonhos estranhos pesadelos
saltos longos entre montanhas
ou o Anjo a puxar por meus cabelos
mesa farta sopa com castanhas
enchiamos a barriga na chinchada
às uvas ao figo ao nabo ou à cenoura
tal era a nossa ementa e variada
tempo de crescimento vida duradoura
era manhã eu e outro em correria
tiramos cada um uma maçã
julgando que deus ainda dormiria
mas a dona da venda era satã
tirar da quinta com consentimento
não era o mesmo que da praça
a fruta desta era um luxo de alimento
a nossa acção era roubar de graça
foram dizer a minha mãe que eu roubara
e ela deduziu que eu era ladrão
ela fazia questão de levantar a cara
não podia aceitar a honra em erosão
vociferou que me bateria com chicote
por ter manchado a sua idoneidade
fuji de casa andei a monte como coiote
triste por ser mercê da caridade
quanto roubo hoje em dia à descarada
não à pássaro que não debique seara alheia
se a seca emerge só o alheio vai na derrocada
de papo cheio fica a crise qu'ele semeia
***
autor: jrg