Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
MOVIMENTOS ANAIS
minha ambição é toda a alma humana
por ela vou eterno confiante
levo a memória milenar das origens
sonho que do pensamento emana
levo o amor que me fez fiel amante
fantasia que me traz vertigens
*
há um sonho secreto para desvendar
que desde criança me acompanha
faz parte do meu ser mais original
um sonho talvez de olhar o mar
de sentir no vento a alma estranha
ardências do meu fogo visceral
*
ou este pesadelo da alta madrugada
que me acorda em suores frios
entalado entre a mentira a verdade
ante a lei de não ser ou nada
navegante sem rumo por entre rios
à beira de abismos da vontade
*
quem me prende o livre pensamento
a pausa a dúvida a sensaboria
a barbárie que destruiu testemunha
voltar atrás por um só momento
montar de novo tragédia e alegoria
colher do riso e da caramunha
*
sendo alma o instinto humanitário
plena de sensores biocósmicos
agindo no nosso corpo intermitente
em interligações e sem horário
secreto sistema de canais iónicos
que propagam na emoção a mente
*
respiro fundo num olhar alucinado
dentro do sonho outro sopesar
a Terra gira em torno de si mesma
arrasta Lua e Sol apaixonado
e em volta dele majestosa a girar
mantém expectativa do sistema
*
meio século rotação e translação
à roda do eixo belo feminino
a cada movimento avulta descoberta
do novo sentir amor o coração
o sonho revela segredos de menino
na minha alma inculta de poeta
*
conto os anos que passam a correr
nesta avidez de ganhar à morte
desdenho hiatos contemporizadores
filtro luz na esperança querer
procuro o rumo que devolva o norte
traço de união dos meus amores
jrg
foto de Carla Sofia Ferreira
o Planeta gira à deriva
contrário à lei cósmica global
seis biliões de gente
que da morte não se priva
nem do medo visceral
que os arrasta na torrente
são deuses agnósticos
sementes de amor e ódio
todos iguais todos diferentes
sejam tratantes ou médicos
sábios fora do pódio
cientistas prepotentes
acontece tudo ou nada
tão de repente
visto da praia suada
dentro da gente
o mar ainda sereno
o sol memória
a meio da trajectória
o vento ameno
a maré enche os esporões
já não há abrigos
nem cardos nem chorões
sobre os médos antigos
lentamente a brisa
vira a sudoeste
engrossa a água frisa
torna-se agreste
traz o cheiro da maresia
nuvens carregadas
escuras encurtam o dia
vagas encapeladas
cresce o mar impetuoso
nas ondas irrequietas
sem tréguas do tempo ventoso
alegres assustam profetas
uma rajada de vento forte
o areal estremece
altera os médos a sul a norte
uivam os cães se anoitece
formam-se cristais
em volta de estranhos objectos
solta a sinfonia de sons abissais
raios trovões despertos
abana o corpo frágil
na ousadia se fosse mulher
o rugido no vento táctil
a fazer sentir o seu poder
ribombam ondas imponentes
que rebentam com fragor
voam gaivotas imprudentes
renasce a emoção do amor
não sou um intruso
ensopado na chuva
de todos os continentes
estou alegre e confuso
sou o homem à beira da curva
colhendo as sementes
não sou um intruso
antes um elemento nefasto
que a tempestade acolheu
rosca sem parafuso
rês tresmalhada sem pasto
sem medo da noite de breu
autor: jrg
foto tirada da net
sou preto e brilho na noite escura
trago nos genes origens de humanidade
a cor da pele que amedrontou a alma impura
não é mais que diferença entre noite e claridade
na negritude em que me rutilo a suave frescura
do mar e das estrelas do fogo da tempestade
sou das civilizações o tempo e a alvura
não poluente terror calamidade
um rasgo do tempo áureo fecundo
que eclodiu na terra em era cósmica
antes de mim era no mar o fim do mundo
e todos se entendiam de uma forma harmónica
sou preto e fui escravo da pior barbárie forçado
sou finitude que o homem louco descorou
mulher violentada o mito alucinado
raiz e fruto que ninguém amou
sou preto negro a negritude
também eu tenho da existência medo
olhos escuros menina juventude
ritmo da vida que me fez o seu segredo
autor: JRG
23 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.