autor:José Luis Cunha - olhares .com
Anamar e eu próprio caminhavamos lado a lado por entre a multidão que entretanto tinha afluído à praia, na manhã solarenga a queimar os últimos dias de Verão, indiferentes à chilreada das crianças, aos olhares cobiçosos que a miravam, que a despiam voluptuosamente, tal a beleza que se elevava do seu corpo, da majestade natural do seu andar, como se saltitasse, leve, os seios dela em turrinhas provocantes no meu braço deixado propositadamente a jeito de receber o encosto, sentia os bicos dos mamilos, salientes, isolados do conjunto mamário, por vezes ela abraçava-me e eu sentia toda a totalidade. Despudoradamente deixei de me preocupar com a saliência do meu sexo sob o calção, apenas o acomodei, ao longo da barriga, para que não fosse uma evidência perturbante
Anamar falava ainda do livro que ambos tínhamos lido e que nos impressionara pelo rigor estético da abordagem aos amores alimentados no silêncio dos corpos, as carências conjugais, as certezas mentidas a si próprios que alimentam as dúvidas. Nany é um romance de interiores.
_Explica-me isso de ser um romance de interiores, como uma arte decorativa... e soltei uma gargalhada.
_Repara, tudo se desenvolve no ecrã do computador, excepto quando se encontram para o envenenar, ela e o amante autêntico, Artur, por quem ela tinha de facto uma paixão, mandara até emissários para o testar, se ele se interessava dela, se tinha compromissos. Ele apareceu num momento fatídico de exasperação interior dela, do seu eu inconstante, a sonhar devaneios, em desvario, queria sentir a libertação de sensações que se acumularam e aquele personagem, galante, caliente, de palavras cruas e olhar penetrante na alma, encantava-a, como se fosse uma pausa até que o outro estivesse disponível, se vissem cara a cara, como aconteceu.
O livro mexera com ela, Anamar, senti toda a efervescência do corpo, o brilho dos olhos, os apertos que me dava no braço, os seios dela.
A casa tinha uma sala ampla com vista de mar e era limpa duas vezes por semana por uma mulher que colaborava na manutenção da casa e das roupas desde que Adélia morrera.
Adélia era a minha companheira, o grande amor da minha vida e tinham passado 10 anos desde então. Ela disse-me que eu arranjaria outra mulher, fez-me prometer-lhe que o faria e eu fiquei este tempo todo à espera de alguém, sem sexo, sem carinhos, sem calor nem frio, eu ausente em mim, numa parte de mim e agora, Anamar, os pés descalços sobre os azulejos luzidios, uma alma transparente de onde eu via um mundo paradisíaco à minha espera.
_Tenho uma paixão por lingerie, disse ela, naturalmente, no tom suave e quente da sua voz que me soava em melodia.
Eu estava em frente da janela grande, de costas voltadas para o mar e vejo-a subir subtilmente o vestido, ou a túnica, as pernas, as coxas, a casquinha de cor preta com desenhos rendados de flores e cupidos espetando corações.
_São Lotus...
_Hã...
_Os desenhos...são flores de Lótus e eros caçando seus amores na magia dos aromas. Gostas?
Os nossos olhos não despregam, rutilantes de uma luz que nos inebriava e conduzia de gesto em gesto, as pulsações dos nossos corações, eu ouvia o meu e o dela, ou era apenas o dela ou só o meu, toc, toc, toc, uma vontade crescente de a abraçar, de ser em ela.
Junto à vulva um relevo que me prendia, o corte perfeito, adequado às suas formas. Erótica, toda ela na sua simplicidade de mulher, os seios saindo da abertura da túnica, apelativos, os dedos compridos nas mãos bem cuidadas, os lábios sequiosos, embora húmidos de se morderem, beijei-a demoradamente, os nossos corpos enleados, a pele electrizante de encontro à minha, um ardor de fogo em toda a volta do corpo, do lado de fora, a senti-la quente, os olhos fechados por momentos, longos, e quando se abrem dizem tanto da luz que emanam.
Levanto-a do chão com os meus braços e deito-a no tapete grande que há na sala, com motivos de deusas adejando sobre corpos nus de mancebos pujantes de sensualidade.
Fico assim, por um momento, de joelhos a ver o seu corpo a adensar-se na caixa dos sonhos, ou das imagens que edito num recanto da mente, ela olha-me docemente, estende-me os braços e eu debruço-me sobre os seus pés que beijo com toda a ternura que sinto, ela encolhe-se com cócegas, chama-me doido, seu doido querido e eu sigo o caminho, beijo as pernas, os joelhos e detenho-me ante os cupidos, os corações vermelhos no fundo preto da cueca, o cheiro que me vem de dentro dela que me inunda de prazer, de desejo, de felicidade e beijo o espaço pudico, a vulva por sobre a cueca, ela aperta-me a cabeça, agarra-se aos meus cabelos, afasta as pernas, o meu nariz rasga em movimentos dúcteis a cavidade da vulva, surgem pontinhos luminosos, gotículas de fluidos que se espraiam da vagina, ela aperta-me mais de encontro ao fogo que me exalta e solta ais sumidos, levanto a cueca, uma nesga lateral, com os dedos afasto os lábios raiados de sangue, a purificação do sangue e absorvo todo aquele odor que se apossa de mim, beijo o clítoris, Anamar puxa-me para cima, ainda me detenho no umbigo, beijo a barriga, as partes laterais do corpo e chego às maminhas, os mamilos evidenciando-se, destacando-se escuros na pele clara e já ela, louca, impaciente, mexe no meu sexo e fá-lo entrar na ânsia que a consome em fogo alucinante, beijamo-nos, as línguas num rodopio de dentro das bocas, revolvendo salivas, sabores de frutos, sinto o meu sexo dentro dela, sinto tudo dela, contracções, espasmos, fluidos que se libertam, de súbito ela atira-me ao tapete e ergue-se sobre mim, metida em mim, sem se soltar, o dorso levantado, as pernas abertas sobre o meu corpo deitado, a mamas balouçando enlouquecidas, os olhos revirados, as minhas mãos nas maminhas dela, os mamilos, os ais dela e meus, e de dentro uma revolução emotiva, absoluta, abrasadora
Anamar caiu sobre mim, exausta, beijámo-nos e ficamos deitados sem dar conta do tempo, inseridos um no outro.
Ao lado, caído no chão, o livro do nosso desassossego, NANY.
autor:jrg