DO AUSTRALOPITECO AO HOMO SAPIENS-OU O COVID-19 COMO FIM
fotos públicas tiradas da net
desenho de Nuno Goçalves
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DO AUSTRALOPITECO AO
HOMO SAPIENS
OU O COVID-19 COMO FIM
*
olá Homo Sapiens
que é feito da tua sabedoria
o Homo erectus já era
aos poucos foste amealhando bens
tornaste-te uma epidemia
extinguido outras espécies primavera
*
o Homo neanderthalensis não resistiu
os australopitecos também não
tornaste-te senhor do mundo à força bruta
mas és um homo estúpido que não viu
que à tua volta há mais inteligência em contra mão
inteligência viva e pura não astuta
*
e agora
nem há profetas
nem apóstolos da desgraça
só silêncio hora a hora
com palavras gritantes infectas
a encher o vazio da praça
*
olho em volta
perscruto o pipilar das aves na rua
ladra o cão miam gatos
angustiante o grasnar da gaivota
talvez fome culpa tua
que não lhes rapas os restos dos pratos
*
os agiotas os egoístas
ainda há pouco no auge tão poderosos
a inveja e a ganância
sobram ainda espertos e oportunistas
os ignorantes caprichosos
quero vê-los a todos engalfinhados à distância
*
emboscado o bicho espreita
também ele a sua oportunidade de sobreviver
como que sabendo da fragilidade humana
predador maior que nem a si próprio e os seus respeita
encurralado com medo de sofrer
confinado ao silêncio que dilacera e a alma engana
*
os sabichões fazem apostas
eles sabem tudo onde outros não sabem nada
fingem-se fortes com impunidade
isto vai acabar se ficarem dentro de portas
enquanto o pânico toma conta da manada
que é feito do humano pensador que dá luz à liberdade
*
será que o jogo acabou
penso ao ouvir estalar as cartilagens da cabeça
os tímpanos numa confusão de ruídos
passeio à volta da mesa redonda onde estou?
a ficar louco embora a mim não pareça
vou à janela aspirar do mar de maresia os fluidos
*
vi na guerra soldados impacientes
quebrando o silêncio com tiros de metralhadora
sem ser por nada para se ouvirem
vi gente fazer discursos inflamados incipientes
prometendo mesa farta à manjedoura
sem se darem conta do ridículo da vertigem
*
mas um micróbio invisível
aterrorizar o mundo humano quase inteiro
espalhar o pânico o salve-se quem puder
as cidades desertas com medo dum vírus desprezível
os arrogantes apeados do poleiro
eis a luz catártica mutante que exibe o Ser Mulher
*
afinal ainda há uma hipótese
neste jogo entre a vida abundante e a morte rasa
uma mutação do inconsciente
ao acordar ouvimos uma melodia que toca em apoteose
um novo conceito de viver uma nova casa
a Paz o amor a Humanidade para toda a gente
*
que reduza o Homo Sapiens Sapiens
à sua vegetativa insignificância
tudo o que descobriram já era descoberto
evoluíram para saques selvagens
infectaram a vida com a febre da abundância
condenaram a existência a um deserto
jrg