ARCO - ÌRIS







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foto de Carla Sofia Ferreira
o Planeta gira à deriva
contrário à lei cósmica global
seis biliões de gente
que da morte não se priva
nem do medo visceral
que os arrasta na torrente
são deuses agnósticos
sementes de amor e ódio
todos iguais todos diferentes
sejam tratantes ou médicos
sábios fora do pódio
cientistas prepotentes
acontece tudo ou nada
tão de repente
visto da praia suada
dentro da gente
o mar ainda sereno
o sol memória
a meio da trajectória
o vento ameno
a maré enche os esporões
já não há abrigos
nem cardos nem chorões
sobre os médos antigos
lentamente a brisa
vira a sudoeste
engrossa a água frisa
torna-se agreste
traz o cheiro da maresia
nuvens carregadas
escuras encurtam o dia
vagas encapeladas
cresce o mar impetuoso
nas ondas irrequietas
sem tréguas do tempo ventoso
alegres assustam profetas
uma rajada de vento forte
o areal estremece
altera os médos a sul a norte
uivam os cães se anoitece
formam-se cristais
em volta de estranhos objectos
solta a sinfonia de sons abissais
raios trovões despertos
abana o corpo frágil
na ousadia se fosse mulher
o rugido no vento táctil
a fazer sentir o seu poder
ribombam ondas imponentes
que rebentam com fragor
voam gaivotas imprudentes
renasce a emoção do amor
não sou um intruso
ensopado na chuva
de todos os continentes
estou alegre e confuso
sou o homem à beira da curva
colhendo as sementes
não sou um intruso
antes um elemento nefasto
que a tempestade acolheu
rosca sem parafuso
rês tresmalhada sem pasto
sem medo da noite de breu
autor: jrg
olhos doces meigos tão carentes
pelos crispados de sujidade
lambem as mãos sedentos famintos
ganem por entre os dentes
quando sentem renascer a amizade
abandonados antes distintos
cães das mais diversas linhagens
objectos de um vão capricho
ou de crianças vencidas mimadas
sofrem de destinos selvagens
na rua a sós ao frio ou em nicho
corpos de úlceras chagadas
comem sôfregos restos de comida
curados por gente sem diploma
cãe vadios na rua disputam amigos
já ladram à gente mais temida
a quem os acarinha e tirou de coma
protejem em seus novos abrigos
olhos doces meigos fixos ternura
seguem o rasto da precaridade
perseguem em grupo cadelas no cio
fiéis ao instinto que os apura
são amigos leais ostentam vaidade
de ser como nós vitimas a frio
olho para eles ao sol estiraçados
de barriga cheia ou inda vazia
e penso há milénios o homem igual
vitima de outros mais avançados
sem a linguagem que nos distancia
quem nos marcou esta meta final
autor: JRG
imagens:foro.mascotas.com
movem-se ágeis graciosos
na arena do quintal
felinos silenciosos
com seus olhos de cristal
correm sobem paredes
rodopiam os corpos esguios
saltam amarinham redes
desenrolam da vida os fios
treinam eximias caçadas
artes de defesa e conquista
quebram silêncios miadas
escondem-se longe da vista
deixam marcas odoríferas
enviam sons lancinantes
no cio tornam-se feras
arranham e mordem amantes
são auto suficientes
lavam germes saram feridas
caçam pulgas com os dentes
na morte são sete vidas
dóceis ronronam festivos
às mãos que afagam e alisam
tornam-se porém agressivos
quando as festas os amansam
se o homem olhasse os gatos
se os tentasse interpretar
se amasse em vez de os dizimar
atingiria outro status
autor :jrg
foto tirada da net
***
olho o fogo dos teus olhos
o brilho dos lábios
onde a língua orvalhou
o arfar do peito
as mãos quietas
com que me acariciou
***
suspiro na quebra do silêncio
disfarço com as estrelas
desinquietas
as mãos ambas sobre o corpo
exaltam ânsias
angústias obsoletas
olho o teu corpo o sorriso luz
a alma a beleza
da lua sobre o mar adocicado
quietude que seduz
e me sublima a certeza
de ser em ti apaixonado
***
então levanto a voz afónico
movo os lábios ressequidos
emito gestos desconexos
perscruto o silêncio cósmico
sendo tu os meus sentidos
na liberdade dos sexos
***
quero dizer as palavras
traduzir amor em gestos de ternura
se ao menos as lágrimas secassem
se a sombra que te cobre
ou nuvem de ventura
com meu silêncio acabassem
***
quanto silêncio nos separa
meço a arritmia do coração
encurto a contagem alucinante
solta-se a mórbida timidez
avanço e toco a alma
que o teu corpo exibe arrepiante
***
liberta rebelde a ousadia
o teu corpo mulher tão menina
mal cabe no meu que te levanta
sabor a vento no cheiro da maresia
que a tempestade de amor
aviva a chama e nos encanta
*****
autor: JRG
portadores da mesma enfermidade
que oprime o coração a consciência
somos desde a remota antiguidade
infectados pelo virus da violência
é natural dizem para se sobreviver
bater na mulher filho ou vizinho
desde que frágeis ante o grã poder
e dele dependam para pão e vinho
há quem controle pela educação
recalcam a ira que sobe em espiral
abanam braços batem pés no chão
usam palavras armadas de tom fatal
escreveram-se tratados humanizantes
disciplinas a lógica a retórica
inventaram amor para todos amantes
mas não baniram doença histórica
nasceu e morreu matado o redentor
deuses subiram e desceram no passado
o homem vitima do seu próprio amor
segue a evolução sem rumo tresloucado
na procura insistente que dê resposta
nascem crianças viris indomáveis
sob os estigmas da desordem são aposta
das novas rotas de homens notáveis
na tragédia de viver sem esperança
eis que surge enfim a luz no horizonte
a entidade cósmica que gerou avança
e finda a violência que nos pôs a monte
autor:JRG
tu própria o disseste obliquamente
tu própria rompeste do eu toda a solidão
tu própria mulher inteira que se sente
tu própria a consciência duma multidão
tu te de ti própria mulher absoluta
tu te de ti própria livre de alheias vontades
tu te de ti própria projecção resoluta
tu te de ti própria sonhos luzes realidades
tu eu própria te se desmistificando
tu eu própria reflexa se te reconhecendo
tu eu própria poderosa se amando
tu eu própria colada no tempo crescendo
tu enfim própria senhora do mundo
tu enfim própria sábia louca consciência
tu enfim própria de visita ao mais profundo
tu enfim própria colocada em evidência
tu alma própria e não só o corpo belo
tu alma própria visionária do próximo devir
tu alma própria do racional desvelo
tu alma própria romântica em mim a refulgir
autor: JRG
imagem tirada da net
como era linda a Primavera
quando vieste tu de amores urgentes
e me tomaste a alma seduzida
pela beleza a ternura de um olhar
que transcendia o pensamento
na alma do sorriso tua minha luz
que sobre nós pairou eternamente
chegou o Verão e muito aconteceu
enroscado no feitiço dos odores
fui navegando por dentro do teu corpo
abri segredos curei temores
ateei fogos que se espalharam furtivos
e acreditei que era possível amar-te
contra a maresia da corrente
intrometido o Outono resvalou
despiu dos frutos as árvores da planície
onde nos amamos intenso frenesim
como se fora o último momento
antes da melancolia que apaga o riso
e nos silencia a ânsia o medo
no deserto das emoções perdidas sem abrigo
quanto eu amava antes de ti
que fosse Inverno a chuva o vento a tempestade
e nele refugiar-me de amores segredos
fustigado no rosto pelos teus beijos hoje saudade
saio de cena sendo poema solidão
por sentir não ser capaz de entender a norte
o que a sul o sol a lua o mar consente
venho dizer-te que amor é sentir na pele
que alguém nos sente e nos enleva
sentir profundo que vence o medo a letargia
que ganha a força de vencer qualquer enredo
por mais atroz que seja o mal em nós profundo
tão belos os teus olhos sem segredos
venho dizer-te que não tenhas medo
autor: JRG
levar-te-ei pelo areal
o cheiro do mar
os meus olhos onde me lês
quero-te sorrir
ri de mim que te mimo
com caretas e gestos
que exprimem amor
leva-me no meu ir
e vem o mar apaga o rasto
mas eu sei-te e sigo
o cheiro a sombra
onde me sabes a maresia
porque somos já um só
não sentes?
é porque o sentes que te dói
beijo a tua dor de mim
porque te amo assim
diferente mas fogoso
és-me sem limites
por onde te percorro
estou dentro...já não posso sair
autor: JRG
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