02
Fev12
À CATA DO HOMEM...
NEOABJECCIONISMO
À CATA DO HOMEM...
imagem pública tirada da net
***
À CATA DO HOMEM..
*
da janela frente ao rio
gaivotas a mariscar
aguas mansas carpideiras
vêm vão num corrupio
de correntes solidárias com o mar
que as namora matreiras
sensual como uma fêmea no cio
*
da janela uma travessa
entre ruas sem saída
rumos novos o rio apruma
gente a viver sem pressa
formando correntes ávidas de vida
onde a morte as desarruma
e a sensualidade se lhes confessa
*
da janela o mundo renova
toca o sino na igreja
aviva a memória preguiçosa
antes do saber que prova
quando o rio se faz ao mar e beija
gente tão mimada graciosa
amante do intimismo da alcova
*
da janela só entreaberta
entra cheiro e sabor
a vaza na maré envelhecida
entra sol e brisa te alerta
quando chega o tumulto do rumor
se apaga a melodia vencida
no silêncio absurdo que desperta
*
da janela ó tu meu amor
só teus olhos abrem
quando a sentem rutilantes
nos batentes com fragor
a frágil torrente por onde escorrem
fluidos dos odores gritantes
que sulcam rio e mar a meu redor
*
da janela o desassossego
tanta tela por pintar
num dia se m'acorda criança
alma triste em desapego
odiado odiento em me acrescentar
reinvento amor ou esperança
escapar ou à solidão me entrego
*
da janela o homem à cata
eu de dentro p'ra fora
extasiado ante a luz e o belo
de tanto que ainda falta
para não ser apenas esta metáfora
que nem a mim próprio revelo
que me arrepia e me sobressalta
*
da janela enfim liberdade
rasgo o tétrico medo
que encurrala o pensamento
que importa ter a idade
mas não dominar amplo o segredo
do juiz que julga o cabimento
onde não cabe nem humanidade
*
da janela o rosto mulher
e a alma a memória
pensamento força esperança
ideia nova a reflorescer
correntes de ar sopros da história
ainda no andar duma criança
onde me procuro e te acho a ser
autor: jrg