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Este governo que hoje governa Portugal, instituiu de novo o atestado de pobreza, alargado e com carácter permanente...a partir de agora, um cidadão vai comprar o passe social, leva o atestado de pobreza...vai pagar a electricidade, idem...vai ao médico, exibe o atestado...medicamentos na farmácia, atestado...filhos na escola, atestado...ignorância, atestado...banco alimentar contra a fome, atestado...não sabemos ainda se dá para alugar casa...comprar roupa e calçado...ir ao super mercado...sequer sabemos qual o prazo de validade...se diário, semanal, mensal ou anual...eis os cortes na despesa...
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Lembro-me...o atestado de pobreza era um estigma disso mesmo...pobreza...uma família que queria galgar o patamar da fome e da escassez de produtos essenciais, procurava outros artifícios...trabalho...trabalho e mais trabalho...os filhos saíam da escola para o trabalho...ser pobre era um estigma de não ser capaz...de pouca dignidade...
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Lembro-me...mudámos do bairro velho...abarracado...o meu pai tinha um emprego precário...carregador e descarregador do tráfego do porto de Lisboa..uns dias sim..outros não...valia a abundância dos recursos
naturais...cadelinhas..berbigão...lingueirão...e caracóis...mudámos para uma casa decente..com casa de banho e banheira...na expectativa de que alugando no verão aos veraneantes, desse para pagar o aluguer que contrataram anual...aos Sábados e Domingos de Verão, vendíamos refrigerantes na praia...alcofas carregadas de garrafas e gelo...apregoando bebidas frescas...sobre a areia escaldante... ao sol tórrido... só com a mudança de regime político conseguimos melhorar...
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Indigna-me esta forma de fazer política...dum lado os poderosos das finanças...com seus sábios de pacotilha...malabaristas de escolástica numa sociedade de conhecimento...e penso...qualquer cidadão medianamente instruído governava desta forma...confiscando os direitos...aumentando os rendimentos do estado...sem solução para reduzir a despesa, tida como gorda, o que poria em risco a sua base social de sustentação...
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Indigna-me a encenação pública do ministro das finanças...a mímica das mãos inquietantes...sedentas de saque...os olhares de espanto perante a nossa ignorância...as justificações paradoxais sobre o absurdo das medidas tomadas...
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Indigna-me que nivelem a pobreza a um nível inferior de dignidade humana...já ninguém consegue viver com o salário mínimo nacional, se quiser viver fora da família de origem... uma pessoa a ganhar 485 euros mensais, recebe 431,65, aluga um quarto por 200 euros...compra um passe por 60 euros...e restam-lhe 171,65 euros... toma o pequeno almoço no Pingo Doce (pastel de nata e café) 0.75... almoça no Pingo Doce (sopa,queijo fresco e pão) 1,85...janta no Pingo doce (sopa,queijo fresco e pão) 1,85...soma total da alimentação do dia 4,45 euros...30 dias 133,35 euros...nos meses de 31 dias são 137,95...os gastos do mês ficam em 393,50 euros nos meses de 30 dias e 397,95 nos meses de 31 dias...sobram-lhe 39,35 euros ou 33,65 euros, conforme a duração dos meses...
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estou exausto...diria o ministro das finanças...ainda podia taxar estes 30 e tal euros...com o atestado de pobreza ele poupa nos transportes...pode vestir-se numa instituição de solidariedade...pode comer os restos
arrebanhados nos restaurantes...
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e nada disto que está a acontecer em Portugal acaba aqui...porque já não há milagres fiáveis...nem providências imortais...porque não está a acontecer só em Portugal...porque é uma pandemia marginal à humanidade...tecida por mentes criminosas que travaram, em dado momento, a evolução lenta e natural do
homem...cortaram as linhas do pensamento...aceleraram os ritmos naturais de crescimento para níveis incomportáveis...englobaram-nos em teorias absurdas de engrandecimento pela materialidade...e agora tratam-nos por milionários, acima dos mil euros...
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dêem as mãos...resistam à torrente da enxurrada...de mãos dadas em volta da terra...pela humanidade!...
autor: jrg