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imagem pública tirada da net
*
A MORTE DO FILIBUSTEIRO...
***
era um homem triste
não foi amado nem amou
na casa grande enclausurado
no silêncio tilintante que persiste
sonhando por onde em tempos andou
usurário financeiro petulante e reformado
recolhido na melancólica solidão que lhe resiste
*
era homem solitário
nem amigos nem mulher alguma
filhos netos afilhados
era frio irascível de tão primário
onde a memória se esfuma
refém dos vãos poderes acumulados
alma escura d'avidez sectário
*
era um homem cómico
às vezes gritos de crianças
absurdas fantasias enganosas
sente vontade de sorrir um vómito
um arrepio patético vagas lembranças
num retorno a idades difusas mais viçosas
quando a brincar no meio do medo se via aflito
*
era homem de livros não lidos
telas peças artísticas para especulação
na casa tão imensa enjaulado
à mercê dos efeitos nos genes desvalidos
sem um gesto de amor ou emoção
académico de sangue neutro e iletrado
*
era o homem mundano
morre de tédio mal parado
à beira dum abismo monetário
insensível d'amor dejecto humano
no seio de tanta riqueza amortalhado
dizem na lápide que ali jaz o bom sicário
que um dia sufragou a morte ao povo insano
*
tinha olheiras profundas
mãos finas com minúcia tão delicadas
usava a mímica tragicómica
orador exímio de tantas palavras fecundas
mas de interpretações maradas
era um homem de alma triste eurofóbica
atestado em ideias imundas
*
morreu de desumanidade
trespassado dor agudizante
por um AVC e enfarte financeiro
sem tempo p'ra salvar a vacuidade
do tesoiro que fora sempre seu amante
morreu sem ter amado a si amor primeiro
não será lembrado por ninguém com saudade
autor: jrg
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